Os 5 milhões de estudantes precisam fazer um texto dissertativo-argumentativo em 30 linhas. Este ano, o número de inscritos é o menor desde 2010
Ano após ano, o tema da redação do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) é um dos principais “mistérios” que rondam o teste e despertam expectativas e preocupações nos estudantes. Não é para menos: na maioria das universidades onde a prova é aceita como vestibular, a dissertação de cerca de 30 linhas tem um peso considerável na nota do aluno. Neste domingo, os mais de 5 milhões de participantes do Enem terão que escrever sobre a democratização do acesso ao cinema no Brasil – conforme anunciado pelo próprio ministro da Educação, Abraham Weintraub, em sua conta no Twitter.
Direto de Palmas, no Tocantins, divulgo o TEMA DA REDAÇÃO: Democratização do acesso ao cinema no Brasil
O tema pegou professores e especialistas de surpresa: no bolão de apostas, constavam temas referentes a assuntos debatidos no primeiro semestre de 2019, a exemplo das redações anteriores. “Esperávamos algo relacionado à transição demográfica, educação à distância ou mesmo vacinação, que foram amplamente debatidos entre o fim do ano passado e o começo deste ano”, diz a professora de redação do Colégio Objetivo, Maria Aparecida Custódio.
A especialista, entretanto, garante que o “susto” não impede que o aluno se dê bem, pois é possível abordar o tema a partir de várias perspectivas. “Como jovens, os alunos têm conhecimento das várias formas de acesso ao cinema que estão surgindo por aí, principalmente com as plataformas de streaming”, lembra. Vale ressaltar também que o assunto é diretamente relacionado ao número de salas de cinema existentes no Brasil e o pouco acesso à internet em áreas remotas.
Segundo o coordenador de Linguagens do curso Anglo, Sérgio Paganim ainda é cedo para falar sobre o tema, visto que, a frase é apenas uma parte da redação. O que garantirá ao aluno um texto nota 1000 serão os parágrafos de apoio divulgados mais para o fim da tarde deste domingo. “A frase é ampla, os alunos podem ser pedidos para dissertar sobre o acesso do público nas saladas de cinema e a inclusão nesse tipo de cultura ou o acesso a políticas públicas de filmes nacionais, como por exemplo, as reservas de cotas para filmes nacionais nas salas de cinema, que como vemos hoje em dia é muito escasso, apesar de ter melhorado nos últimos anos”, afirma Sérgio.
O professor, porém, diz que apesar de terem outros temas mais urgentes em nossa sociedade e que poderiam ser retratados na prova, falar em democratização da cultura é um assunto “muito pertinente”. “O INEP coloca em discussão um tema muito polêmico em nossa sociedade. Vimos ao longo do ano que houve cortes à políticas públicas a cultura, a extinção do ministério, entre outros assuntos. O governo colocou o tema em pauta e essa é, sem dúvida, uma das questões urgentes na sociedade. O exame nos mostra que a banca deste ano colocou um tema para as pessoas, principalmente os estudantes, discutirem. É um tema de relevância sócio-cultural”, finaliza Sérgio.
Embora a prova tenha sido enviada para a gráfica em meados de junho, o tema da redação está relacionado a um fato recente: há cinco dias, o Ministério da Educação assinou um protocolo para ampliar o número de salas de cinema acessíveis. Por outro lado, o assunto traz à tona as polêmicas na Ancine que, desde dezembro do ano passado, é alvo de investigações que levaram a mudanças na chefia.
Nos dias 3 e 10 de novembro, pouco mais de 5 milhões de estudantes – o menor número de inscritos desde 2010 – serão submetidos à prova, que é o passaporte para todas as universidades federais do país – além de algumas instituições estaduais e no exterior, como é o caso da Universidade de Coimbra, em Portugal.
Neste primeiro domingo, as provas são de redação, linguagens e ciências humanas. O texto, um dos momentos de maior angustia dos alunos, precisa ser feito de maneira dissertativo-argumentativo sobre o assunto em 30 linhas.
Os participantes podem deixar o local às 15h30, mas só às 18h30 podem levar o caderno de prova. A pontuação adquirida na redação é muito importante no desempenho final. Para não zerar no texto, os estudantes devem seguir essas características:
- possuir uma proposta de intervenção para o problema apresentado no tema;
- ter repertório sociocultural produtivo no desenvolvimento da argumentação do texto;
- respeitar os direitos humanos;
- apresentar as características textuais fundamentais, como coesão e coerência;
- demonstrar domínio da modalidade escrita formal da língua portuguesa;
- atender ao tipo textual dissertativo-argumentativo.
Este será o primeiro Exame sob o governo de Jair Bolsonaro e o último em forma de papel, a partir do ano que vem o ENEM será digital.
Pelo horário de Brasília, a prova se encerra às 19h00 neste Domingo (03) e às 18h30 no domingo que vem (10).
FONTE: VEJA
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